MUITO ALÉM DO CHOCOLATE: ARTIGO BAIANO REVELA O POTENCIAL INOVADOR DOS RESÍDUOS DE CACAU
A Bahia, berço da maior produção de cacau do Brasil, juntamente com o estado do Pará, também se destaca como território fértil para a inovação científica. Um artigo publicado na prestigiada revista Food Chemistry, da Elsevier, revela o imenso potencial funcional e tecnológico dos subprodutos da cadeia produtiva do cacau.
Produzido por uma equipe multidisciplinar formada por farmacêuticos, engenheiros de alimentos, nutricionistas, químicos e agrônomos vinculados a instituições da Bahia, como o Centro Tecnológico Agropecuária do Estado da Bahia e a Universidade Federal da Bahia, o estudo reforça que o cacau vai muito além do chocolate. Cascas, sementes, polpa e mel de cacau, considerados resíduos, despontam como fontes ricas em compostos bioativos com aplicações promissoras nas indústrias farmacêutica, cosmética e alimentícia.
Potencial Terapêutico e Tecnológico
A cada tonelada de cacau processado, são geradas cerca de 10 toneladas de resíduos, com potencial de gerar um impacto ambiental e social negativo. Só na Bahia, estima-se mais de 1 milhão de toneladas anuais de material com potencial farmacológico. Entre os compostos de destaque estão:
- Flavonoides: antioxidantes naturais com propriedades cardioprotetoras e anti-inflamatórias.
- Teobromina: broncodilatador natural, com aplicações em formulações respiratórias.
- Fibras prebióticas: moduladoras da microbiota intestinal, com benefícios à saúde digestiva.
- Pectina: excipiente natural para encapsulação de medicamentos, que é uma alternativa sustentável aos sintéticos.
Além disso, a casca do cacau, que representa até 76% do fruto, pode ser usada na produção de biodiesel e cosméticos, enquanto a polpa tem se mostrado eficaz na produção de bebidas funcionais (como a kombucha), e bioetanol. O mel de cacau, por sua vez, já atrai atenção da indústria cosmética e farmacêutica, especialmente no desenvolvimento de perfumes e cremes.
Oportunidades para o Farmacêutico
Este cenário abre novas frentes de atuação para o profissional farmacêutico, especialmente nas áreas de pesquisa e desenvolvimento, com a extração, caracterização e formulação de compostos bioativos; de controle de qualidade, com a padronização, desenvolvimento de métodos analíticos e certificações; e de consultoria técnica, oferecendo apoio regulatório e assessoria em bioprocessos.
A valorização dos subprodutos do cacau representa não apenas uma estratégia de sustentabilidade e economia circular, mas também uma oportunidade concreta de inovação e geração de renda para os produtores locais.
Ciência Feita na Bahia
O artigo “Potencial funcional e tecnológico de subprodutos da cadeia produtiva do cacau (Theobroma cacao L.)” é um exemplo inspirador de como a ciência baiana pode transformar desafios ambientais em soluções farmacêuticas de alto valor agregado. É também um convite para que mais farmacêuticos explorem essa área em expansão, contribuindo com conhecimento técnico e visão estratégica para o desenvolvimento de produtos que promovem saúde, sustentabilidade e inovação.

Nome original do artigo: Functional and technological potential of by-products from the cocoa (Theobroma cacao L.) production chain.
O CRF-BA parabeniza todos os autores:
Manuela B. Nascimento – Faculdade de Farmácia, Universidade Federal da Bahia (UFBA) Centro Tecnológico Agropecuário da Bahia (CETAB), SEAGRI
Joseane C.G. Alencar – Faculdade de Farmácia, Universidade Federal da Bahia (UFBA)
Bruno N. Paulino – Faculdade de Farmácia, Universidade Federal da Bahia (UFBA)
Joselene C.N. Nascimento – Faculdade de Farmácia, Universidade Federal da Bahia (UFBA)
Tamires R. Ferreira – Faculdade de Farmácia, Universidade Federal da Bahia (UFBA)
Acsa S. Batista – Instituto Federal Baiano – Campus Uruçuca
Madson M. Nascimento – Universidade SENAI CIMATEC Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia em Energia e Ambiente – INCT E&A, UFBA
Sergio E. Soares – Faculdade de Farmácia, Universidade Federal da Bahia (UFBA)
Paulo R.R. Mesquita – Centro Tecnológico Agropecuário da Bahia (CETAB), SEAGRI Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia em Energia e Ambiente – INCT E&A, UFBA